terça-feira, 30 de setembro de 2014

Lisura

Acordei seis da manhã de um Domingo.
Desci as escadas. Sentei no sofá e tudo estava quieto.
Banhei-me de silêncio e calma. Fechei os olhos, e a brandura do Amor me aqueceu.
Sorri.

Um gole de café para enfrentar a braveza humana,
para matar no peito a ressaca do mar.
Para ganhar o amor numa tragada da vida.
Para beijar o rosto com poesia.

Tudo me convidava a dançar.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Rearranjo

Eu tinha dado um tempo, é verdade. Dizer que tinha parado de escrever é mentira. No fundo eu só estava com vergonha. Parecia sem sentido continuar a escrever. Eu só não sei se essa vergonha era do ato de escrever ou dos pensamentos que me continham. De qualquer forma, foi um choque descobrir isso. Escrever é a forma de sinalizar o socorro. Ou a fúria. Ou o medo.
O medo. Esse bastardo! Está a me rodear, nesse exato momento. Talvez esse medo que tenha me constrangido. Me julgando, voraz, as palavras desmedidas. Querendo me apequenar. Me empobrecer. Querendo assaltar minha alma e devorar meu coração, sem qualquer pudor ou classe. Escrever é se expressar. Simples assim. O que se origina dessa expressão é revelador, renovador, frio ou triste. Eu levei um choque ao perceber-me constrangida de escrever. Expressar o que sentia, me aceitar como estava - porque estamos sempre mudando - de empoeirar. O medo, esse cretino sem alma, estava se nutrindo em minhas víceras. Pode parecer imbecil aos que lêem sem intimidade com o ato de escrever, mas voltar a rabiscar esse monólogo endurecido salvou minha vida. Salvou porque não me escondi novamente, mesmo sentindo o medo na nuca, grudado, sedento. Salvou porque eu me senti, depois de anos escondendo todo e qualquer sentimento, sentindo que era errado tudo aquilo que me cercava. Me reprimindo para agradar a todos. Salvou porque me reeduquei. Tive dignidade de olhar para o que eu ignorava. E eu nem sabia que ignorava. Não percebia que estava me julgando, me escondendo atrás de desculpas que eu mesma já não acreditava. Já não aceitava mais. Que estava me maltratando. Eu estava tão distante de mim... Percebo agora. Salvou porque me deu coragem de me olhar e de seguir também.
Era natural escrever, assim como respirar. Nesse momento, sinto-me desorientada, como quem acordou de um longo período de sono, e sente dificuldades para manter-se em pé. As palavras não se encaixam. Mas me contento. Por hora, sinto-me feliz em rever essa velha amiga, a literatura dos acometidos pela covardia do medo e resgatadora de sonhos.