domingo, 29 de julho de 2012
Ponto Cego
A alma elevando-se nas altitudes do avesso.
Rasgando a calma no grande muro do Tempo.
O Tempo rasgando as altitudes da alma. A calma ao avesso.
Desperta. Já é hora de acordar.
Revirou em sua cama como se lutasse contra o sonho. Buscou a posição confortável para que a mente relaxasse.
Em sua mente, as palavras desfiguradas, as lutas de egos travadas entre olhares manipulados.
Revirou e revirou, e não achou posição favorável. O pesadelo continuou, e os olhares, as falas, a encenação toda, a conversa mentirosa a enojou compulsivamente.
Culminando ao momento principal, despertou, tão voraz, que esqueceu-se do pesadelo.
Tateou a face. Penteou os cabelos com os dedos. Fechou os olhos. Respirou pausadamente.
Os músculos todos estavam retraídos. Os nervos eram a conseqüência de uma noite falida.
Desistindo de permanecer na posição encontrada, levantou, ligou o computador e saiu em busca de água.
"Desperta. Já é hora de acordar"
Era a mesma cena em uma semana e três dias. O mesmo olhar cansado, o mesmo bocejo. A mesma tensão nos nervos e nos sonhos.
Bebeu um gole de água.
Lembrou da grande sacanagem que fora forçada a enfrentar, dos dias de ódio reprimido.
Respirou e disse a si mesma, no intuito de firmar-se dentro de seu peito: Desperta. Já é hora de acordar.
E voltou a dormir.
No fim da tarde, no seio do Mundo.
Existem mais, muito mais coisas que você não consegue ver agora.
Às vezes é o que está lá mesmo, jangada frágil, mas sobrevivente de grandes Tempestades.
Não preciso matar mil homens para mostrar que tenho força.
domingo, 22 de julho de 2012
E então...
Hoje a casa está fechada e o homem passa bem.
O homem é triste e sozinho, mas cozinha como ninguém. O lamentável é que se o indivíduo bater as botas, não haverá ninguém que notará essa partida, porque o homem, além de sozinho e triste, também é recluso. Como é sozinho e triste, acaba encontrando nas pessoas o seu passado, e começa a despejar sua vida porque ele é sozinho e triste, mas ainda é Humano.
O homem é bom, de fato. Fala demais porque não agüenta a condição isolada.
O fato é que ninguém o ouve porque estão ocupados com o trabalho, com a família, com seus pensamentos. O homem é gago e isso dá preguiça nas pessoas. Preguiça de esperar o que ele tem a dizer, e pressa também, por que afinal, trabalham e tem mais o que fazer.
Mas esse homem me achou e eu o ouvi, então ele vinha quando podia vir. E claro, eu trabalhava também, e também tinha questões a resolver, mas o ouvia.
Só que o homem era transparente, seus olhos me mostravam tristeza e cansaço, e não havia linha nem palavras que pudessem me provar o contrário.
Então eu o ouvia e ria de suas histórias saudosas, mas quando ele ia embora, os contos, a tristeza, o cansaço, sua pessoa pesada pelo tempo, me fazia chorar.
E eu chorava tão cegamente, chorava e pensava naquele homem tão bom e frágil, um coração cortado e comido pelo tempo, naqueles olhos que me indicavam que lutavam diariamente com seu maior medo; o de ficar sozinho. Chorava alucinadamente, pela perda da vida que ele buscava entender. Pela esposa já falecida, pelos filhos já tão distantes, pela frieza das pessoas, por aquela condição mal resolvida que ele vivia. Estava sendo definhado pela tristeza e o máximo que conseguiam dar a ele era pena.
Um homem tão cheio de histórias e vida não merece o sentimento de pena; merece o respeito profundo.
Mas infelizmente, esta história também será esquecida logo pela manhã, e quem sabe as respostas e as perguntas, todo o tempo que nos envolvem serão apenas um olhar vago no ar...
A História secreta.
É. Você me disse uma vez das coisas secretas que você pensa e sonha. Da história secreta que escreve, e que ninguém leu.
Mas sabe, todos temos essa coisa secreta que ninguém sabe, até que um dia vem à tona para o mundo.
E sempre que eu penso nisso, dá vontade de ler aquelas suas coisas secretas que você pensa que ninguém sabe, mas todo mundo sabe e comenta, e você fica se sentindo especial porque ninguém sabe do seu grande segredo, da sua grande sacanagem mundial, da sua imperfeição mais coerente, nesse mundo de gente esperta.
Você aprimora seu conhecimento de não se surpreender mais, e fica assim, como quem não quer nada, à espreita de alguma nova emoção - ou qualquer emoção que seja - porque você não é mais aquela garota que acredita em contos de fadas, você convive com tontos e fatos, e isso deixou-te perturbada demais.
Escreveu um fracasso, que foi um sucesso, e aquele conto secreto foi um sucesso calado, daqueles que impõe respeito e que você não precisa de mais ninguém, além de você mesma para apreciar cada detalhe contido naquelas linhas. Você é seu passo, seu traço, sua noite. Sua vida, seu encanto, e sua natureza secreta está ali, solta, dilatada, delatada, e só você a lê.
Mas quem está ao seu redor também leu, leu em você, no seu caráter, no seu olhar, na sua caminhada e nas coisas que você conta.
A história secreta é um bem comum, onde ninguém confessa nem conta a ninguém. Ela fica ali, para apreciadores noturnos se gabarem, imaginarem.
A história, que é sua, virou do Mundo e você nem sonha.
É, você faz bem demais a esse mundo sem memórias. Pelo menos para mim, a história secreta vive, e eu amo cada momento seu, que está escrito nela.
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