quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Trecho de um livro futuro...
Três dias depois de não procurar por ninguém nem por nada, William ouviu um som muito belo em uma determinada residência. Não pôde evitar de encontrar-se com as notas vindas de um piano. Aproximou-se da janela. Era Sofhia. William observou sua amiga tocando calmamente, e dominada por um êxtase que William não sabia existir. O momento tocou o rapaz profundamente, e enquanto Sofhia tocava, William era levado por sua mente para lugares inimagináveis. Quando Sofhia terminou de tocar, William se fez presente. Sofhia o convidou para entrar. Abriu a porta para seu amigo abalado, e William entra como que estivesse em transe. Tão admirado pela beleza, pela leveza, pelo espírito e pela música, olhos vidrados e úmidos, William senta-se perto do piano. Visivelmente abalado, William abaixa a cabeça e fecha os olhos. Sofhia sorri.
Extraordinário, Sofhia! Seu amor pela música tocou-me profundamente! Deve ser maravilhoso fazer algo com tanto amor e ainda receber por isso. Sofhia se aproxima.
Toco piano para existir. Me encontro nas notas e elas fazem parte de tudo o que sou. Existo de forma anacrônica e me orgulho de fazer parte disso. Não toco piano porque necessito de dinheiro para sobreviver. Toco piano, reproduzindo extraordinárias melodias porque a música faz parte de mim. Faz parte de quem eu sou. E eu prefiro existir dentro da melodia, do que trabalhar sem propósito ou significado. Quando executo alguma peça no piano, eu mal posso acreditar que sou eu quem está tocando. Eu realizo as mais belas melodias que outros seres humanos tiveram a genialidade de criar. Eu faço parte desse momento, ele existe. Fico pensando: "Não acredito que eu estou tocando esta linda peça." ou então, "Eu compus algo que tem muito valor para mim. Não vejo mais significado do que isso." Ah, como tenho sorte de ter a música!
Sofhia encara seu amigo com uma doçura.
Creio que este é o propósito de existir, William. Realizar tarefas das quais você se orgulha e se identifica. Um homem sem propósito se torna sem valor para si mesmo. E como existir sem ter seu devido valor?
Sentou-se na frente do piano, e o encarou. Pousou sua mão nas teclas e pressionou levemente os botões, surgindo uma melodia entre dó e mi. William fechou os olhos e entendeu o significado que Sofhia lhe dissera. A música lhe falava mais alto. Sofhia sentou-se ao seu lado e tocou o Estudo op.10 nº3 , "Tristesse", de Chopin. As notas tocavam calmamente a dor e a vida de Sofhia. William fechou os olhos e deixou-se levar pelo momento. Mesmo sendo uma música para estudos, havia muito diálogo entre eles. William então, entendeu o que Sofhia lhe dissera. Entendeu também, as palavras de Horácio. Entendeu o que havia feito no lugar mágico até então. Propósito. De existir, de sentir. De ser. Fechou os olhos, entre uma nota e outra. Abriu a alma, entre um sentimento e outro.
Sofhia terminou de tocar e permaneceu uns minutos imóvel. Com os olhos fechados e a respiração leve, deixou o lábio erguer-se mostrando a satisfação do momento. E disse:
Há no pensamento e na emoção todas as ferramentas para a existência, pois o que define o valor de algo, meu caro, senão nós mesmos?
Por um momento...
Bebia os vértices daquelas palavras doloridas, que rasgavam-lhe a garganta e a honra. Bebia fundo as vontades e as amarguras. Bebia largo os espantos e os excessos, e a saudade que o devorava como uma canção não preenchida. Bebia seus amores, amigos e emoções, e toda bela forma de existência era bebida e embebecida. Era a forma que encontrou de sucumbir os desejos eminentes de querer ser muito mais do que ele era. A forma mais imprecisa de matar a consciência que lutava para sobreviver.
Fim de tarde
Verões quentes, noites frias.
O pálido rosto que desponta à frente
não mais se mostra de fato,
e o ato da fé é entorpecente.
Calma, que já verás o Sol.
Sinta fervoroso o raio da Luz.
A calma é irradiada aos corações poentes.
As pequenas partes.
E por criar no rosto um sorriso, mostra a fraqueza do sentimento bom?
E por assoviar canções caminhando, mostra a saudade que sinto?
E por fazer de mim tarefa, ao invés de vícios e virtudes?
E por querer amor, por querer bem, mostra a demência?
E por ser o que sou, me torna melhor ou pior?
E por ser tudo tão igual, não mostra a novidade?
E do inicio ao fim, surge o inteiro.
Julgamentos...
E essa agonia que nos bate forte no peito,
essa agonia é a forma de manifestarmos
que não sabemos pensar
e o desespero que vem no fim de tarde
revela que o coração não é calmo
e que julga demais um coração ferido.
domingo, 29 de julho de 2012
Ponto Cego
A alma elevando-se nas altitudes do avesso.
Rasgando a calma no grande muro do Tempo.
O Tempo rasgando as altitudes da alma. A calma ao avesso.
Desperta. Já é hora de acordar.
Revirou em sua cama como se lutasse contra o sonho. Buscou a posição confortável para que a mente relaxasse.
Em sua mente, as palavras desfiguradas, as lutas de egos travadas entre olhares manipulados.
Revirou e revirou, e não achou posição favorável. O pesadelo continuou, e os olhares, as falas, a encenação toda, a conversa mentirosa a enojou compulsivamente.
Culminando ao momento principal, despertou, tão voraz, que esqueceu-se do pesadelo.
Tateou a face. Penteou os cabelos com os dedos. Fechou os olhos. Respirou pausadamente.
Os músculos todos estavam retraídos. Os nervos eram a conseqüência de uma noite falida.
Desistindo de permanecer na posição encontrada, levantou, ligou o computador e saiu em busca de água.
"Desperta. Já é hora de acordar"
Era a mesma cena em uma semana e três dias. O mesmo olhar cansado, o mesmo bocejo. A mesma tensão nos nervos e nos sonhos.
Bebeu um gole de água.
Lembrou da grande sacanagem que fora forçada a enfrentar, dos dias de ódio reprimido.
Respirou e disse a si mesma, no intuito de firmar-se dentro de seu peito: Desperta. Já é hora de acordar.
E voltou a dormir.
No fim da tarde, no seio do Mundo.
Existem mais, muito mais coisas que você não consegue ver agora.
Às vezes é o que está lá mesmo, jangada frágil, mas sobrevivente de grandes Tempestades.
Não preciso matar mil homens para mostrar que tenho força.
domingo, 22 de julho de 2012
E então...
Hoje a casa está fechada e o homem passa bem.
O homem é triste e sozinho, mas cozinha como ninguém. O lamentável é que se o indivíduo bater as botas, não haverá ninguém que notará essa partida, porque o homem, além de sozinho e triste, também é recluso. Como é sozinho e triste, acaba encontrando nas pessoas o seu passado, e começa a despejar sua vida porque ele é sozinho e triste, mas ainda é Humano.
O homem é bom, de fato. Fala demais porque não agüenta a condição isolada.
O fato é que ninguém o ouve porque estão ocupados com o trabalho, com a família, com seus pensamentos. O homem é gago e isso dá preguiça nas pessoas. Preguiça de esperar o que ele tem a dizer, e pressa também, por que afinal, trabalham e tem mais o que fazer.
Mas esse homem me achou e eu o ouvi, então ele vinha quando podia vir. E claro, eu trabalhava também, e também tinha questões a resolver, mas o ouvia.
Só que o homem era transparente, seus olhos me mostravam tristeza e cansaço, e não havia linha nem palavras que pudessem me provar o contrário.
Então eu o ouvia e ria de suas histórias saudosas, mas quando ele ia embora, os contos, a tristeza, o cansaço, sua pessoa pesada pelo tempo, me fazia chorar.
E eu chorava tão cegamente, chorava e pensava naquele homem tão bom e frágil, um coração cortado e comido pelo tempo, naqueles olhos que me indicavam que lutavam diariamente com seu maior medo; o de ficar sozinho. Chorava alucinadamente, pela perda da vida que ele buscava entender. Pela esposa já falecida, pelos filhos já tão distantes, pela frieza das pessoas, por aquela condição mal resolvida que ele vivia. Estava sendo definhado pela tristeza e o máximo que conseguiam dar a ele era pena.
Um homem tão cheio de histórias e vida não merece o sentimento de pena; merece o respeito profundo.
Mas infelizmente, esta história também será esquecida logo pela manhã, e quem sabe as respostas e as perguntas, todo o tempo que nos envolvem serão apenas um olhar vago no ar...
A História secreta.
É. Você me disse uma vez das coisas secretas que você pensa e sonha. Da história secreta que escreve, e que ninguém leu.
Mas sabe, todos temos essa coisa secreta que ninguém sabe, até que um dia vem à tona para o mundo.
E sempre que eu penso nisso, dá vontade de ler aquelas suas coisas secretas que você pensa que ninguém sabe, mas todo mundo sabe e comenta, e você fica se sentindo especial porque ninguém sabe do seu grande segredo, da sua grande sacanagem mundial, da sua imperfeição mais coerente, nesse mundo de gente esperta.
Você aprimora seu conhecimento de não se surpreender mais, e fica assim, como quem não quer nada, à espreita de alguma nova emoção - ou qualquer emoção que seja - porque você não é mais aquela garota que acredita em contos de fadas, você convive com tontos e fatos, e isso deixou-te perturbada demais.
Escreveu um fracasso, que foi um sucesso, e aquele conto secreto foi um sucesso calado, daqueles que impõe respeito e que você não precisa de mais ninguém, além de você mesma para apreciar cada detalhe contido naquelas linhas. Você é seu passo, seu traço, sua noite. Sua vida, seu encanto, e sua natureza secreta está ali, solta, dilatada, delatada, e só você a lê.
Mas quem está ao seu redor também leu, leu em você, no seu caráter, no seu olhar, na sua caminhada e nas coisas que você conta.
A história secreta é um bem comum, onde ninguém confessa nem conta a ninguém. Ela fica ali, para apreciadores noturnos se gabarem, imaginarem.
A história, que é sua, virou do Mundo e você nem sonha.
É, você faz bem demais a esse mundo sem memórias. Pelo menos para mim, a história secreta vive, e eu amo cada momento seu, que está escrito nela.
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